segunda-feira, 1 de março de 2010

Eles tornaram-se obsoletos

Eu fico triste. Mas uma constatação há de ser feita. Meus pais são pessoas obsoletas.

É estranho. Meu pai, sempre foi visto por todas pessoas que o cerca por uma pessoa inteligente, sensata, culta. Meu relacionamento com ele sempre foi formal, distante. Creio que nunca fomos amigos.

Eu vejo pessoas dizendo que passaram a noite com os pais, se divertindo, curtindo. Creio que jamais fiz isso. Ultimamente tenho percebido meu pai querendo se enturmar , querendo participar mais. Me vejo sem paciência. Eu estava agora há pouco vendo um filme, do bergman, da trilogia "O silêncio de Deus". Era o segundo filme, Winter Light. Ele veio até meu quarto. Ficou olhando a TV. A cena que passava era uma missa, com uma música tocando no órgão. Ele olhou como se pensasse no que dizer, cheio de dedos, com medo de dizer alguma besteira. Disse que tinha um filme "bom de orgão" com o Bella Lugosi. Perguntou se eu conhecia. Respondi friamente "Claro, o drácula dos anos 50."

Outo silêncio.

ele saiu do quarto.

Puta merda, me bateu uma tristeza absurda.

Ele era meu herói . Caralho. Esses 6 anos que passei fora, morando sozinho, parece que eu evoluí uns 30 anos e eles ficaram na mesma. Eu me vejo hoje, morando aqui me sinto como se ainda fosse aquele adolescente, nerd, gordão e risonho. Deprimido quando ficava em casa, mas feliz ao ficar na rua. Eu queria mesmo que rolasse uma interação maior com meus pais, principalmente com meu pai. Nunca saímos para tomar uma cerveja, nunca saímos para comer fora. Ele é preocupado,gosta de mim, mas não sei. Lá no fundo vejo um que de depressão nele.

O engraçado é que eu sinto muito dele na minha personalidade. Pode parecer arrogante, mas não é. Trata-se apenas de uma constatação fria: Eu sou uma idéia do que meu pai teria sido se tivesse evoluído mais. Ele parou no tempo, assim como minha mãe.

Inclusive até na minha irmã eu vejo um pouco disso.

Eu creio que está chegando a hora de eu sair daqui. Mas ainda fico na dúvida se virar as costas totalmente possa ser algum tipo de ingratidão. Gostaria que o único sentimento que ficasse fosse o de que eles ficariam melhor comigo longe. Não veria mais essas coisas que me deixam tão triste, como meu pai querendo se enturmar, querendo conversar e não termos papo. Não temos assunto nenhum, nada. Eu o amo, mas temos muito, muito pouco incomum.

Hoje, aos 60 anos, será que é possível re-inciar um processo de evolução ? Ou será que o melhor a fazer é deixá-los quietos vivendo no mundinho deles ?

Queria que fosse possível trazê-los comigo, nessa minha sede por constante evolução

.. ao som de burzum, belus e com a bênção dos deuses nórdicos ...

Um comentário:

Dona das Horas disse...

Que triste situação. Sei do que diz, mas não gostaria de me sentir assim.